domingo, 23 de agosto de 2009

BRIGA MEDIÁTICA

A briga Globo x Record promete novos lances nos próximos dias. Mantida agora fora dos telejornais, depois de ocupar longos espaços dentro dos noticiários, com matérias de até doze minutos, tempo dedicado apenas a fatos excepcionais, como grandes tragédias, a disputa entre as duas redes deverá ser agora em outro campo.
A Rede Record confirmou a compra do documentário inglês “Muito Além do Cidadão Kane”, uma produção de 1993, que mostra a vida do jornalista Roberto Marinho e as atuação da Rede Globo, fundada por ele em 1965. O nome do documentário é uma alusão a um filme americano da década de 1940, que conta a história de um cidadão que constrói um império jornalístico e que acaba se mostrando sem escrúpulos.
No contra ataque a Rede Globo está negociando a compra de um documentário produzido na França, em 2002, que mostra a atuação de Edir Macedo. “Universal, uma ameaça ao país dos crentes”, mostra a atuação da igreja comandada pelo Bispo Edir Macedo, proprietário da Rede Record desde 1989, apresentada como ponta-de-lança de um esquema empresarial miliardário, construído com a mercantilização da fé.
A “guerra” dos documentários, substituindo o noticiário, ainda não tem data para acontecer. A Record vinha usando trechos d e “Muito além do Cidadão Kane” em seus programas religiosos noturnos mas, ao fechar a compra dos direitos de veiculação do documentário indica a disposição de colocá-lo inteiramente no ar, provavelmente no momento em que for atacada novamente. Já a Globo mantém sigilo sobre a utilização do “Universal, uma ameaça ao país dos crentes”, negando inclusive que tenha adquirido os direitos de exibição.
O novo round da disputa entre as duas redes, que foi intenso durante pelo menos uma semana, ao ponto do colunista José Simão, da Folha de São Paulo, dizer que estava mais fácil “ver o William Bonner e a Fátima Bernardes na Record” e o “Bispo Edir Macedo na Globo”, começou após divulgação, por jornais, de uma nova ação do Ministério Público contra a Igreja Universal e onze de seus dirigentes. A denúncia, aceita pela Justiça de São Paulo, é por crimes de formação de quadrilha, evasão de divisa e sonegação fiscal.
A Globo usou a tática da ressonância. Em nenhum dos seus noticiosos fez acusações. Limitou-se a reproduzir o que foi veiculado pelos jornais e a citar parte dos textos dos promotores. As respostas da Record foram mais diretas, com editoriais onde a Globo é apresentada como uma emissora decadente, que procura denegrir a imagem da concorrente por estar perdendo audiência.
Assim como surgiu, a “guerra”, de feições comerciais saiu do vídeo. Sem fatos novos, a Rede Globo tirou o assunto de seus telejornais. A Record ainda mantém a disputa, utilizando para isto seus horários religiosos, em que os pastores procuram “satanizar” a concorrente, recomendando aos fiéis que não assistam sua programação.
Tudo indica, no entanto, que houve, no momento um recuo tático. As acusações, em greve, estarão de volta. Em forma de documentários produzidos fora do país. O pior é que nem uma das duas está preocupada com o telespectador ou com a qualidade da informação. Disputam a liderança e o dinheiro que isto representa. Diante deste cenário, em disputa por audiência, temos uma programação cada vez mais empobrecida culturalmente. “Essa briga mediática só interessa aos dois grandes veículos, a mais ninguém”, diz a assistente social Márcia Campos. A estudante de jornalismo Elenir Barcelar é mais radical: “é uma palhaçada”. Vejam o que pensam os telespectadores sobre a “briga”.

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